Homem de Programa
Luciano Somenzari
Homem de Programa, 121 páginas, é da Folheando
Desempregado, Felipe decide ganhar dinheiro fácil se tornado garoto de programa, ou como diz ele, homem de programa. O livro conta suas aventuras e desventuras nesse mundo do sexo pago, da favela ao hotel de luxo, do motel ao departamento da universidade, num registro cômico. A certa altura, ele decide se reposicionar no mercado oferecendo serviços de “massagista”, diminuindo um pouco o inevitável constrangimento.
Na maior parte do tempo é uma sequência de histórias breves com clientes diferentes, contada de forma bem humorada. A trama fica mais interessante nos capítulos que tratam do casal Allinson: o protagonista é contratado pelo marido para armar um flagrante com a esposa, de quem pretende se separar. A esposa não é fácil, o marido não quer pagar, confusões acontecem. No final temos outra trama um pouco mais enrolada, quando uma colega de profissão quer que Felipe finja que vai se casar com ela.
Lembraria um pouco Bukowski, e poderia ser mais engraçado, se o personagem fosse mais perdedor e tivesse uma vida mais fodida. Mas Felipe não bebe, não usa drogas, suas dificuldades são superficiais, é um cara bem humorado e contente, apesar de estar sempre reclamando de falta de dinheiro. Ainda por cima, leva para a cama mulheres bonitas, que descreve como deslumbrantes, incríveis, gostosíssimas.
O texto às vezes resvala para o brega, “Fui me enroscando nas suas coxas robustas até atingir com volúpia seu triângulo do prazer”, “Sua boca na minha era o verbo de ligação de duas entidades afoitas para amar”, imagino que haja aí uma intenção irônica, porém o narrador não fala assim o tempo todo, então o registro fica um pouco inconsistente.
A premissa da história é que está cheio de mulher insatisfeita sexualmente por aí, que só precisa de uma oportunidade para explodir de prazer nas mãos de um desconhecido. Questionável. As leitores femininas que julguem. Os leitores masculinos julgarão o fato de que Felipe é uma máquina de fazer sexo: apesar dos quarenta anos e dos cabelos grisalhos, precisa de várias camisinhas para cada um de seus encontros, que duram horas.
Em suma, é um livro bem curto e bem despretensioso, que quer apenas divertir o leitor por algumas horas. Eu teria preferido que o autor bolasse um enredo um pouco mais elaborado, uma aventura mais rocambolesca, com mais indas e vindas, apuros e mal entendidos. Mas é engraçado.
Uma machadada.
(lembrando que livro sem machadada é ótimo, uma machadada é bom, duas é fraco e três é muito ruim)
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Fiquei curiosa, mas felizmente passou. Tem muito livro na fila pra ser lido e não há tempo a perder com homem escrevendo sobre sexo 😅😅😅
Acho intrigante observar como a literatura contemporânea permanece obcecada por narrativas centradas em peripécias sexuais. Afinal, a revolução sexual já completa 60 anos — quase uma vovó — e não há nada mais acessível hoje em dia do que o sexo, seja ele pago, conquistado, solitário, virtual, ou de qualquer outra forma.