Transistória: Uma ficção científica para tempos de pandemia, 219 páginas, é autopublicação kindle.
Histórias de viagem no tempo são cheias de aventuras, certo? Sempre veremos alguém mexendo com o passado, alterando o futuro, se metendo em confusões, talvez um plot twist envolvendo algum paradoxo temporal. Ou seja, diversão garantida.
Não desta vez.
Nelson Moraes decidiu subverter as expectativas do gênero em seu Transistória. Não vemos os personagens viajarem no tempo, e eles não se metem em aventuras. A narrativa é que salta no tempo e no espaço, contando a história das descobertas científicas que possibilitaram a viagem no tempo, como uma empresa usou essa tecnologia para ganhar dinheiro e como o esquema foi investigado e desbaratado pela polícia federal. Vários personagens aparecem e não há protagonista.
Em vez de personagens presos no passado, ou vislumbrando o futuro, em vez da estranheza cultural e linguística do deslocamento espaço-temporal, temos longas tomadas de testemunhos, longas conversas entre agentes policiais, longos discursos, longas explicações pseudo-científicas tão detalhadas quanto inúteis (já que é tudo ficção mesmo). Um especialista em línguas é mobilizado para possibilitar a comunicação com pessoas do passado, mas não vemos isso acontecer nem uma única vez.
História de viagens no tempo precisam ter cenas dramáticas que se passam em outras épocas! O autor não pode simplesmente dizer que algumas pessoas viajaram no tempo, mostrar só um pouquinho e pronto, fica por isso mesmo. Senão a decepção do leitor será grande. Como foi a minha.
O livro pretende ser uma comédia, mas não há cenas engraçadas, não há mal entendidos, trocas de identidade, reviravoltas. O humor fica por conta só da linguagem, que é realmente leve e um tanto irreverente, lembra um pouco Douglas Adams.
Três machadadas.
(lembrando que livro sem machadada é ótimo, uma machadada é bom, duas é fraco e três é muito ruim)