Só duas? Você foi generoso nessa conclusão, hein! Como o outro grande sucesso dela, eu daria fácil três machadadas (e, se pudesse, mais do que isso... =P)
Suas observações são perspicazes sobre "Véspera", mas apesar delas, admito, gostei demais do livro. Bem melhor que o "Tudo é Rio", mais complexo, mais bem elaborado. Apreciei o fato de serem irmãos gêmeos, gostei da complicação dos nomes (Caim e Abel). Não me incomodo muito com a repetição de ideias, gosto de viajar nas reflexões poéticas, mesmo que aparentemente redundantes. Gostei da forma, do entrelaçamento das narrativas.
Enfim, essa foi a primeira vez que não compactuei com suas machadadas. Mas, creio, literatura é assim mesmo: enquanto uns apreciam, outros desprezam e vice-versa. Faz parte.
Me permita criticar alguns pontos da sua crítica. A questão dos nomes dos irmãos é fundamental para a trama. Tanto dentro da lógica narrativa, já que é a razão derradeira para a ruptura afetiva entre Custódia e Tonico - primeira das grandes vésperas no desenrolar de causalidades aflitivas -, quanto para fins dramático-literários, ao imprimir um desenrolar próprio da tragédia grega a partir de uma decisão absurdamente leviana, tão ilustrativa da húbris de se enfrentar a ordem (antroponímica) divina - esta muito bem advogada por Custódia. Essa mãe, aliás, tenta inutilmente iludir o destino, chamando a ambos os filhos Abel - incorrendo no clássico erro dos heróis mitológicos. Essa treta envolvendo nomes e sinas, para mim, é a criação mais interessante da autora. Quanto à crítica da repetição dos fatos, concordo que o enredo não é dos mais ricos e o drama chega a ser circular, mas discordo da conclusão - puramente subjetiva - de que, por isso, o livro fica monótono. Primeiro, porque as ideias, quando retomadas, o foram sempre com incremento de profundidade e, principalmente, com renovação criativa da forma, o que tornou o livro fluido, a despeito da falta dum avançar retilíneo dos eventos - propriedade que, inclusive, não é requisito de boa literatura. De minha parte, um indicativo da fluidez do livro é que o devorei em poucos dias (como disse, subjetivo); assim também a ampla digestão da obra no público leigo, certamente menos habituado a livros enfadonhos do que os críticos literários. Segundo, e esse é um argumento menos pessoal, vejo a circularidade das ideias como um recurso intencional, voltado ao destaque do peso psicológico da trama para os personagens. Penso que, apesar de o risco de didatismo pedante ou inseguro sempre acompanhar a repetição de temas, a autora conseguiu utilizá-la para criar um oceano encampelado de, como você mesmo disse, angústia e aflição perenes, no qual os personagens estão submersos e, por tabela, o leitor. Para causar essa sensação, creio ser imprescindível a retomada cíclica; sem ela, Dark seria só uma série de 1 temporada sobre viagens no tempo, não um labirinto de tormentos tão fiel à condição humana. Por fim, sobre esse mesmo ponto do excesso de tristeza etc, não tem como discordar. Tampouco concordar: novamente estamos diante do tal gosto. Eu, que sou dado a instrumentalizar o sofrimento literário como meio de resgate do meu contentamento esquecido, leitor dos russos e de algumas filosofias quase deprimidas, encontrei nesse livro mais um com bom sabor.
Olha, eu tenho um irmão gêmeo (logo, não somos do mesmo sexo nem, claro, identicos) e eu me identifiquei DEMAIS com esse livro. Achei belíssimo. Recomendo pra todas as mães de gemeos, achei muito didático, importante demais falar sobre como somos pessoas diferentes e como respeitar isso. Enfim, adorei o livro e me tocou muito, não tinha antes lido nada sobre gêmeos assim tão verdadeiro.
É maneira de dizer, não quis colocar como se fosse um livro didático. Acho que é um elogio literário na medida em que me surpreendeu como ela conseguiu retratar com muita verdade e sensibilidade algo que me parece difícil de ser assim posto.
"Todo mundo é muito triste — Abel é triste, Custódia é triste, Antunes é triste, Vedina é triste. Todas as relações humanas abordadas são marcadas por rancor, mágoa, sofrimento. " kkk com essa saborosa descrição vou sair agora para comprar!
Não sei se me frustrei com a expectativa de ler algo que muitas amigas elogiavam e tudo mais, mas não me pegou. Nenhum deles. Talvez tenha gostado um pouquinho mais do A Natureza. Poderia ter parado no primeiro? Não... sei lá, acho que os autores são inocentes até que se prove o contrário e têm direito de se defender da acusação de falhar no ofício. Então eu sempre tento ler mais de um livro (se houver) para daí chegar num veredicto.
Concordo com você: ela não é uma péssima escritora, mas realmente peca em martelar muito numa coisa e deixar outras que poderiam ser mais bem desenvolvidas.
Cara, esse foi o único dela que eu li. Fui tão desesperançoso, achando que ia ser tão pior pelo que os colegas comentavam, que me surpreendi até gostando. Abração!
Só duas? Você foi generoso nessa conclusão, hein! Como o outro grande sucesso dela, eu daria fácil três machadadas (e, se pudesse, mais do que isso... =P)
Suas observações são perspicazes sobre "Véspera", mas apesar delas, admito, gostei demais do livro. Bem melhor que o "Tudo é Rio", mais complexo, mais bem elaborado. Apreciei o fato de serem irmãos gêmeos, gostei da complicação dos nomes (Caim e Abel). Não me incomodo muito com a repetição de ideias, gosto de viajar nas reflexões poéticas, mesmo que aparentemente redundantes. Gostei da forma, do entrelaçamento das narrativas.
Enfim, essa foi a primeira vez que não compactuei com suas machadadas. Mas, creio, literatura é assim mesmo: enquanto uns apreciam, outros desprezam e vice-versa. Faz parte.
Isso mesmo, Simone. Tento ser objetivo, mas os gostos pessoais sempre contam.
Me permita criticar alguns pontos da sua crítica. A questão dos nomes dos irmãos é fundamental para a trama. Tanto dentro da lógica narrativa, já que é a razão derradeira para a ruptura afetiva entre Custódia e Tonico - primeira das grandes vésperas no desenrolar de causalidades aflitivas -, quanto para fins dramático-literários, ao imprimir um desenrolar próprio da tragédia grega a partir de uma decisão absurdamente leviana, tão ilustrativa da húbris de se enfrentar a ordem (antroponímica) divina - esta muito bem advogada por Custódia. Essa mãe, aliás, tenta inutilmente iludir o destino, chamando a ambos os filhos Abel - incorrendo no clássico erro dos heróis mitológicos. Essa treta envolvendo nomes e sinas, para mim, é a criação mais interessante da autora. Quanto à crítica da repetição dos fatos, concordo que o enredo não é dos mais ricos e o drama chega a ser circular, mas discordo da conclusão - puramente subjetiva - de que, por isso, o livro fica monótono. Primeiro, porque as ideias, quando retomadas, o foram sempre com incremento de profundidade e, principalmente, com renovação criativa da forma, o que tornou o livro fluido, a despeito da falta dum avançar retilíneo dos eventos - propriedade que, inclusive, não é requisito de boa literatura. De minha parte, um indicativo da fluidez do livro é que o devorei em poucos dias (como disse, subjetivo); assim também a ampla digestão da obra no público leigo, certamente menos habituado a livros enfadonhos do que os críticos literários. Segundo, e esse é um argumento menos pessoal, vejo a circularidade das ideias como um recurso intencional, voltado ao destaque do peso psicológico da trama para os personagens. Penso que, apesar de o risco de didatismo pedante ou inseguro sempre acompanhar a repetição de temas, a autora conseguiu utilizá-la para criar um oceano encampelado de, como você mesmo disse, angústia e aflição perenes, no qual os personagens estão submersos e, por tabela, o leitor. Para causar essa sensação, creio ser imprescindível a retomada cíclica; sem ela, Dark seria só uma série de 1 temporada sobre viagens no tempo, não um labirinto de tormentos tão fiel à condição humana. Por fim, sobre esse mesmo ponto do excesso de tristeza etc, não tem como discordar. Tampouco concordar: novamente estamos diante do tal gosto. Eu, que sou dado a instrumentalizar o sofrimento literário como meio de resgate do meu contentamento esquecido, leitor dos russos e de algumas filosofias quase deprimidas, encontrei nesse livro mais um com bom sabor.
Olha, eu tenho um irmão gêmeo (logo, não somos do mesmo sexo nem, claro, identicos) e eu me identifiquei DEMAIS com esse livro. Achei belíssimo. Recomendo pra todas as mães de gemeos, achei muito didático, importante demais falar sobre como somos pessoas diferentes e como respeitar isso. Enfim, adorei o livro e me tocou muito, não tinha antes lido nada sobre gêmeos assim tão verdadeiro.
A relação pessoal de um leitor com o livro é imponderável. Mas dizer que achou "muito didático" não chega a ser elogio literário...
É maneira de dizer, não quis colocar como se fosse um livro didático. Acho que é um elogio literário na medida em que me surpreendeu como ela conseguiu retratar com muita verdade e sensibilidade algo que me parece difícil de ser assim posto.
"No geral, o texto se esforça demais por ser poético, por ser inspirado, lírico, inusitado. É outra característica que considero cansativa."
mai isso é todo livro dela
vc leu mais de um.
corajoso.
😂
"Todo mundo é muito triste — Abel é triste, Custódia é triste, Antunes é triste, Vedina é triste. Todas as relações humanas abordadas são marcadas por rancor, mágoa, sofrimento. " kkk com essa saborosa descrição vou sair agora para comprar!
Eu li Véspera, Tudo é Rio e A Natureza Mordida.
Não sei se me frustrei com a expectativa de ler algo que muitas amigas elogiavam e tudo mais, mas não me pegou. Nenhum deles. Talvez tenha gostado um pouquinho mais do A Natureza. Poderia ter parado no primeiro? Não... sei lá, acho que os autores são inocentes até que se prove o contrário e têm direito de se defender da acusação de falhar no ofício. Então eu sempre tento ler mais de um livro (se houver) para daí chegar num veredicto.
Concordo com você: ela não é uma péssima escritora, mas realmente peca em martelar muito numa coisa e deixar outras que poderiam ser mais bem desenvolvidas.
Cara, esse foi o único dela que eu li. Fui tão desesperançoso, achando que ia ser tão pior pelo que os colegas comentavam, que me surpreendi até gostando. Abração!
Vai mais pra trás na fila mas não vou desistir dele.
Fiquei preso na capa.
Bem isso.